Gleen Gould, um gênio

Glenn GouldNos anos 80, em minha estada de doutorado na França, conheci a arte de Glenn Gould. Carismático, dividindo opiniões a seu respeito, tenho por ele a mais profunda admiração. Possuo praticamente toda a discografia deste pianista maior, talvez o maior de todos os tempos.

O canadense Glenn Gould (1932 – 1982) foi um gênio como intérprete, revolucionando a interpretação musical de várias obras, sobretudo as de J. S. Bach. Suas gravações das Variações Goldberg são consideradas um marco na música ocidental do século XX. Gould abandonou as apresentações ao vivo em 1964 e, nos últimos dezoito anos de sua vida, dedicou-se exclusivamente às gravações em estúdio. Por que Gould teria feito isso?

Glenn Gould 2

Um dia Glenn Gould escreveu: “Eu acredito na intromissão da tecnologia porque, essencialmente, essa intromissão impõe à arte uma noção de moralidade que transcende a própria ideia de arte“.  Já nos anos 60, Gould percebeu que os avanços da tecnologia, sobretudo da tecnologia fonográfica, iriam transformar conceitos sobre arte e sobre o consumismo da arte. A popularização da arte com certeza não se dá através de concertos , onde apenas uns poucos privilegiados tem acesso. Suas gravações de Bach, Mozart, Beethoven, Wagner, Strauss ou Sibelius, representam a principal contribuição de Gould para a arte de nosso tempo, presente e futuro.

Além da necessidade de solidão e, até mesmo, de reclusão por longos períodos de tempo, são lendárias certas excentricidades de Gould como a que ele levava a própria cadeira de piano para os sets de gravação nos estúdios, e a de usar cachecóis e grossas luvas de lã em dias quentes, além de colecionar abotoaduras e chaves…

GG3

As Variações Goldberg formam um conjunto de 32 peças  – uma ária, trinta variações e a repetição da ária – para cravo, compostas por Johann Sebastian Bach,  publicadas em 1741. Glenn Gould fez duas gravações antológicas destas Variações Goldberg, a primeira em 1955 e a segunda em 1981, um ano antes de sua morte.

Veja e ouça aqui a versão de 1981, na íntegra, precedida de uma entrevista dada por Gould. A gente fica na dúvida entre amar Bach por causa de Gould ou amar Gould por causa de Bach. Compositor e intérprete se fundem, em momentos de total êxtase do ouvinte.

  E como diz uma pessoa neste vídeo: “Glenn Gould melhorou o  mundo. Ele trouxe bondade.”

 

GG4

Estátua de Gould frente ao prédio do CBC, em Toronto/Canadá.

Particularmente, faço um paralelo entre Glenn Gould e James Dean (1931-1955). Ambos nascidos no início dos anos 30, percorreram trajetórias de inconformismo com a mediocridade, em busca de uma possível perfeição. Dean trilhou a arte cinematográfica e morreu tragicamente aos 24 anos de idade. Fez muito em pouquíssimo tempo. Gould percorreu o caminho da interpretação musical e morreu precocemente aos 50 anos. Fez tanto que ainda não conseguimos assimilar nem parte de seu legado.

 Autor: Catherine Beltrão

Comments(4)

  1. Responder
    Eduardo Vieira says:

    o blog está uma delicia, brindando-nos com tanta riqueza nos mais diferentes campos de expressão da Arte. Não conheço tanto a obra de Gould, mas é inegável que, após esta apresentação textual, enriquecida com um brinde especial (um vídeo no youtube onde é possível termos uma hora de contato com tamanha genialidade) fui convencido de que estamos tratando de um fora de serie, alguem com uma visao muito alem do virtuosismo tecnico. Um genio!

  2. Responder
    Edgar Alexander says:

    Mais uma vez a Catherine se supera com um excelente post. Apesar de adorar Bach, não conhecia a história do Glenn Gould e nem havia visto o vídeo dele. É sempre bom encontrar estas pérolas no meio de tanta bobagem que rola na internet. Parabéns. Como a internet seria boa se todos contribuíssem assim.

  3. Responder
    Catherine Beltrão says:

    Lendo os comentários de Eduardo e de Edgar, fico com a convicção de ter acertado nesta proposta de compartilhar trajetórias e experiências através deste blog. Muito bom ter feito conhecer este gênio que é Glenn Gould a mais duas pessoas sensíveis e amantes da Arte, como estes meus dois grandes e especiais amigos…

  4. Responder
    Pianos em telas e versos (Parte I) | ArtenaRede says:

    […] trilha sonora deste post escolhi 5 peças de J.S. Bach e Ludwig van Beethoven, interpretadas por Gleen Gould e 4 peças de Frédéric Chopin e Franz Liszt, com interpretação de Claudio Arrau. Puro […]

Comente