Da série “Quase cinzas de uma obra permanente”: Junho 1940

Os anos 40 foram marcados pela Segunda Guerra Mundial. Em 14 de junho,  Paris foi ocupada pelo alemães nazistas. É sobre este episódio que Edith Blin (1891-1983) pintou a tela “Juin 1940“, a quarta obra apresentada na série “Quase cinzas de uma obra permanente“.

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“Juin 1940”, de Edith Blin. 1943, ost, 100 X 65cm

 

Pintada em 1943, um ano depois de começar a pintar, a obra fez parte da primeira exposição de Edith, realizada no Palace Hotel, Rio de Janeiro, em outubro deste mesmo ano.  Mostra uma alegoria à França, representada por uma mulher (provavelmente ela mesma, Edith, como modelo), altiva e determinada, aos pés de uma escada, disposta a subir seus degraus, deixando para trás uma França arrasada.

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Matéria publicada no “Diário Carioca”, em 20.10.1943

Esta obra teve grande repercussão mediática, sendo reproduzida em alguns jornais da época. Uma dessas reproduções foi no jornal “Diário Carioca“, edição 4.708, de 20 de outubro de 1943. Junto à imagem da obra “O Despertar de um Gigante“, a obra “Juin 1940” aparece na matéria “Exposição Edith Blin no Palace Hotel“, onde se destaca o seguinte trecho:

“… Edith Blin é uma artista sem pretensões. Sua arte é uma parte de sua alma, de seu sentimento de uma grande inspiração artística.

No seu primeiro quadro, “Juin 1940” (na matéria aparece “Juin 14”, aparentemente um erro da edição), uma figura de mulher, que olha com desprezo para tudo que ficou atrás de si, com um sorriso significativo, misto de dor e de esperança, vemos a França ofendida, subindo para a glória e para a libertação.      ...

Em toda a pintura de Edith Blin há um sentido patriótico, um grito da mulher francesa pela pátria ultrajada. ”

Em outra reportagem, desta vez na “Revista Franco Brasileira“, número 118, de novembro de 1943, a obra “Juin 1940” também foi reproduzida, desta vez ilustrando a matéria de Yvan Laroche, em sua “Croniqueta Darte”. Abaixo, parte do texto, que evoca a exposição do Palace Hotel:

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Matéria publicada na “Revista Franco-Brasileira”, em novembro de 1943.

” … A obra é notável pela sua diversidade. Não há, na realidade, uma exposição, porém diversas exposições, cada qual diferente das demais por causa dos seus motivos, devido à impressões que ela provoca.

Logo de início, e em razão dos acontecimentos destes últimos anos, figuram alegorias. E ali, que ela exprimiu, como dum primeiro lanço, a sua dor e o seu orgulho de francesa. É a sua alma que ela atirou sobre as telas. “Juin 1940”, “Les deux armes”, “Le drapeau”, todas são violentas, como sufocadas pelo ódio e pelo desgosto em face das monstruosidades da guerra.  Nunca, em qualquer dos olhares, aparece a derrota, coisa que a França não conhece.  …

Madame Blin pinta as vezes com o vigor de um homem, mas é mulher e tem um sensibilidade aguda que se traduz com plenitude, com a intuição inteligente que a anima toda e acrescenta um carácter novo a sua arte. Há vigor sem vencer, e algo que enfraquece a expressão. E parece que esta brutalidade aparente, esta natureza selvagem, está bem no espírito dos dias atuais, ensombrados pela tragédia que se desenrola na Europa, e a que pessoa alguma pode ficar indiferente. A artista é uma grande patriota. ” …

É impossível deixar se perder uma obra como esta, testemunho de um tempo de atrocidades mundiais, em que mesmo distante fisicamente, Edith Blin conseguiu expressar com toda a sua sensibilidade de artista, a dor e a angústia que lhe passava na alma.

Para quem tiver curiosidade de ler mais posts sobre a série “Quase cinzas de uma obra permanente“, clique nos links abaixo:

“Carnaval e quase cinzas… de Edith Blin” (post que deu origem à série); “Quase cinzas de uma obra permanente”: Piéta (parte I) ; “Quase cinzas de uma obra permanente”: Piéta (parte II); “Quase cinzas de uma obra permanente”: Marquesa.

 Autor: Catherine Beltrão

 

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