O cenário dos anos 40 nas artes plásticas do Brasil

Os anos 40 marcam um grande desenvolvimento no cenário artístico brasileiro. Com a Europa assolada pela Segunda Guerra Mundial, vários artistas que estavam estudando no exterior voltam ao Brasil, trazendo novo vigor ao já modernismo brasileiro implantado com a Semana de 22. Nomes como Di Cavalcanti, Tarsila, Anita Malfatti, Brecheret, Portinari, Guignard, Ismael Nery e Flávio de Carvalho são a ponta do iceberg de uma grande transformação que a arte brasileira estava sofrendo.

Di Cavalcanti - Mulheres protestando

“Mulheres protestando”, ost, 51 X 70cm, 1941 – Di Cavalcanti

Idealizador da Semana de Arte Moderna, em 1922, no Teatro Municipal de São Paulo, Emiliano Di Cavalcanti (1897-1976) está de volta ao Brasil, após temporadas passadas nos Estados Unidos, França e Portugal nos anos 30. Fixa-se em São Paulo, mas realiza exposições na Argentina e no México. Faz ilustrações para livros de Jorge Amado, Vinicius de Moraes e Álvares de Azevedo. Participa com Anita Malfatti e Lasar Segall do júri de premiação de pintura do Grupo dos 19. Critica de forma veemente o abstracionismo.

Tarsila - Estratosfera

”Estratosfera”, ost, 50 X 65cm, 1947 – Tarsila

Nos anos 40, Tarsila do Amaral (1886-1973) já tinha em sua bagagem a Semana de Arte Moderna, a fase artística “Pau-Brasil” e o Movimento Antropofágico, iniciado com a sua famosa obra “Abaporu” (1928). Também já tinha passado por uma fase de temática mais social, após uma estada na Rússia na década anterior. A década de 40 trouxe para Tarsila a volta aos antigos temas, preparando-se para sua participação na I Bienal de São Paulo, ocorrida em 1951.

Anita Malfatti - Samba

“Samba”, ost, 40 X 49,5cm, 1943-45 – Anita Malfatti

Após variadas estadas de estudo em Paris, Anita Malfatti (1889-1964), uma das também participantes da Semana de Arte Moderna de 1922, transforma radicalmente seu jeito de pintar nos anos 40, pintando de forma cada vez mais simples, com temáticas representando a “alma brasileira”. Segundo a própria Anita: “É verdade que eu já não pinto o que pintava há trinta anos. Hoje faço pura e simplesmente arte popular brasileira. É preciso não confundir: arte popular com folclore. (…) eu pinto aspectos da vida brasileira, aspectos da vida do povo. Procuro retratar os seus costumes, os seus usos, o seu ambiente. Procuro transportá-los vivos para as minhas telas.”

Brecheret - Monumento

“Monumento às Bandeiras”, 1920-53 – Brecheret

Victor Brecheret (1894-1955), responsável pela introdução do modernismo na escultura brasileira, também participou da Semana de Arte Moderna de 1922. Tendo estudado na Europa nos anos 10, passou 20 anos se dedicando ao projeto de construção do “Monumento às Bandeiras”, encomenda feita pelo Estado de São Paulo em 1923.  Nos anos 40, vence o concurso internacional de maquetes para o Monumento a Caxias e se prepara para ganhar o 1º Prêmio Nacional da Escultura na I Bienal de São Paulo, em 1951. 

Portinari - Crianca Morta

“Criança morta”, ost, 176 X 190cm, 1944 – Portinari

Cândido Portinari (1903-1962), embora não tenha participado da Semana de Arte Moderna de 1922, é, seguramente, o artista modernista brasileiro mais conhecido no exterior. Na década de 30, esteve em Paris e executou três grandes painéis para o pavilhão do Brasil na Feira Mundial de Nova York. Nos anos 40, Portinari executou quatro grandes murais na Fundação Hispânica da Biblioteca do Congresso em Washington, com temas referentes à história latino-americana. De volta ao Brasil, realizou, em 1943, oito painéis conhecidos como “Série Bíblica”, fortemente influenciado pela visão de “Guernica”, de Picasso, e sob o impacto da 2ª Guerra Mundial. Em 1944, a convite do arquiteto Oscar Niemeyer, iniciou as obras de decoração do conjunto arquitetônico da Pampulha, em Belo Horizonte (MG). A escalada do nazi-fascismo na Europa e os horrores da guerra reforçaram o caráter social e trágico de sua obra, levando-o à produção das séries “Retirantes” e “Meninos de Brodowski”, entre 1944 e 1946. O final dos anos 40 assinalou o início da exploração dos temas históricos por meio da afirmação do muralismo. Em 1948, Portinari exilou-se no Uruguai, por motivos políticos, onde pintou o painel “A Primeira Missa no Brasil”, encomendado pelo banco Boavista do Brasil. Em 1949, executou o grande painel “Tiradentes”. Por este trabalho, Portinari recebeu, em 1950, a medalha de ouro concedida pelo Júri do Prêmio Internacional da Paz, reunido em Varsóvia, Polônia.

Guignard - Paisagem Imaginante

“Paisagem Imaginante”, ost, 41 X 33cm, 1943 – Guignard

Nos anos 20, Alberto da Veiga Guignard (1896-1962) aperfeiçoou seus estudos na Alemanha, Itália e França. Os anos 40 encontram Guignard integrando a Comissão Organizadora da Divisão de Arte Moderna do Salão Nacional de Belas Artes, com Oscar Niemeyer e Aníbal Machado e em 1943, passa a orientar alunos em seu ateliê, criando o Grupo Guignard. A única exposição do grupo, realizada no Diretório Acadêmico da Escola Nacional de Belas Artes – ENBA, é fechada por alunos conservadores e reinaugurada na Associação Brasileira de Imprensa – ABI. Em 1944, a convite do prefeito Juscelino Kubitschek, Guignard transfere-se para Belo Horizonte e começa a lecionar e dirigir o curso livre de desenho e pintura da Escola de Belas Artes.

Ismael Nery - Autorretrato

“Autorretrato”, ost, 129 X 84cm, 1927 – Ismael Nery

Ismael Nery (1900-1934) viajou duas vezes a Paris nos anos 20, tendo tido contato com Marc Chagall, o que contribuiu para transformá-lo no pioneiro do Surrealismo no Brasil. Nunca vendeu um quadro e ficou marcado como o pintor maldito do Modernismo. O realismo social da década de 30 e as tendências abstratas dos anos 40/50 não deixaram espaço para o figurativismo espiritual e católico de Nery. Somente a partir da década de 60, sua obra começou a ser reconhecida, sendo hoje um dos maiores artistas da geração de Di Cavalcanti e Tarsila do Amaral.

Flavio de Carvalho - Mulher morta com filho

“Mulher morta com filho”, ost, 1946 – Flávio de Carvalho

Flávio de Carvalho (1899-1973) estudou na Europa nos anos 10 e 20. Apesar de não ter participado da Semana de Arte Moderna de 1922, tornou-se um dos principais propagadores da estética do grupo modernista. A década de 40 vai encontrar Flávio em sua segunda série com a temática da morte, onde está incluída a série “Trágica”, com nove desenhos de sua mãe agonizante. Irreverente e provocador, Flávio de Carvalho é considerado um precursor do artista multimídia. Destaca-se por sua atuação no teatro e suas performances, que abrem caminho para os novos procedimentos artísticos que têm desenvolvimento, no Brasil, a partir das décadas de 1960 e 1970.

Após ter feito esta pesquisa, constatei um fato bastante interessante: todos os artistas plásticos que fizeram parte do cenário artístico dos anos 40 no Brasil tinham estado anos antes na Europa, principalmente na França, absorvendo conhecimento junto a movimentos emergentes, como o expressionismo, o surrealismo, o abstracionismo, o cubismo. Através deste mergulho, estes artistas foram amadurecendo o já movimento modernista que havia iniciado na Semana de 22, transformando de uma forma sólida e consistente o cenário artístico brasileiro.

Autor: Catherine Beltrão

Comments(2)

  1. Responder
    Kat says:

    Gostei do conteudo do post, era o que eu procurava.

  2. Responder
    Eloizi says:

    Realmente um bom artigo ,mas eu digitei alguma coisa e apareceu algo totalmente diferente.Isto nao e culpa do artigo eu adorei mas sim culpa de onde pesquisei
    o artigo de vcs e magnifico.
    parabens fizeram um bom trabalho

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