O que faz uma flor encantar um artista?
Na verdade, as flores encantam qualquer pessoa, seja artista ou não, seja poeta ou não. A beleza, a cor, o perfume, a forma, tudo se funde e, como se fosse uma mágica, se transforma em um pedaço de nossa alma, que queremos partilhar com alguém. Por isso, gostamos de dar flores, por isso gostamos de receber flores.
Mas um pintor quer mais. Ele quer registrar este momento de partilha. Ele quer partilhar com mais gente e por muito mais tempo, o encantamento que sua alma sentiu. Foi este registro que Edith Blin (1891-1983) deixou, em nada menos de 126 obras com a temática flores.
Em suas quatro décadas de pintura, Edith pintou flores em telas e cartolinas, a óleo ou pastel. Mas foi nos anos 50 que suas flores desabrocharam em seu mais contundente esplendor, algumas livres e soltas no ar, outras entremeadas a rostos e figuras.
Impossível não se emocionar com a “Braçada de flores“, por exemplo, ao se perceber que são as flores que tendem ao abraço e não o contrário. Da mesma forma, as “Flores vermelhas em ascensão” arrebata o nosso sentimento em sua pretensão de que um único galho jovem e viçoso inicia a subida de uma escada sem fim… e as “Flores em erupção” parece estar prestes a explodir, as flores vermelhas ainda seguras em um redemoinho branco em convulsão, querendo se desprender desesperadamente do chão.
Em “Flores ao vento“, os galhos floridos são levados pelo vento em meio à tempestade, e certamente estas flores irão embelezar outras paisagens e outros tempos…
Após seu falecimento, a principal coletiva em que flores de Edith Blin participaram foi a “Exposição de Primavera“, realizada na D’Bieler Galeria de Arte, no Shopping Center da Gávea, em setembro de 1988. Junto a nomes como Scliar, Aldemir Martins e Sylvio Pinto, entre outros, as flores de Edith resplandeceram e inundaram de luz e força os espaços da exposição. As obras “Flores em volteio” e “Flores amarelas” participaram desta coletiva.
Em dezembro de 1986, na Sala de Exposições do Hotel San Marco, em Brasília, foi realizada a exposição “Flores no Final da Primavera“, constando de 25 obras, produzidas em dois períodos: de 1955 a 60 (técnica óleo sobre tela pintada com pincel) e de 1975 a 80 (óleo sobre cartolina colocada sobre eucatex com predominância da espátula). O sucesso de público e vendas foi enorme, a ponto de algumas obras terem sido disputadas por mais de uma pessoa, como ocorre em leilões.
“Orquídea, rosas e violão” é uma das três obras criadas pela artista em que a orquídea é a protagonista do enredo, parecendo sussurrar ao ouvido de uma das rosas brancas que descansam sobre o violão.
Mesmo sendo suspeita para falar sobre as flores de Edith, não existem flores como as que ela pintou. São flores fortes e delicadas. Simbólicas e poéticas. Solitárias e sociáveis. Densas e translúcidas. As flores de Edith Blin são como sua alma.
Autor: Catherine Beltrão
Comments(3)
Taissa says:
16 de junho de 2014 at 01:48Flores… elas dizem muito. Por isso elas simbolizam a gratidão, o prêmio e o perdão. Retratar uma flor como a Edith fez é realmente muito difícil, são retratos de uma alma que tinha muito para falar! Parabéns! 🙂
Catherine Beltrão says:
16 de junho de 2014 at 03:07Essas palavras chegaram a doer de tão lindas! Nossas três almas certamente estão conectadas neste momento: a sua, a minha e a da Edith… valeu demais!
luiz rosalba says:
16 de junho de 2014 at 15:56Gosto dos quadros que brincam, distorcem e/ou alteram a realidade como o das “Orquídea, rosas e violão” . Faz a gente pensar no que o artista imaginou ao pintar o quadro ..