Era uma vez um ursinho preto. De pelúcia. E também era uma vez um palhaço. De pano, listrado de vermelho e branco. Eles se encontraram na casa de uma menina. Ela tinha seis anos. Seu nome era Katia.
Katia adorava brincar com eles. O ursinho preto e o palhacinho vermelho e branco. E eles adoravam brincar com ela.
A menina morava com a avó. E a avó de Katia era pintora! Ela gostava muito de pintar a Katia. Já tinha feito vários retratos dela. Então, um dia Edith – era o nome da avó – resolveu pintar a Katia com os seus amigos, o ursinho e o palhaço. Primeiro, ela pintou a neta só com o ursinho que, a essa altura, já tinha nome e se chamava Teddy.
Katia já estava acostumada a posar… ela sabia que precisava ficar quietinha. Mas Edith não precisou falar nada para o Teddy. Ele também não se mexeu nem um pouco enquanto posava.
Depois, Edith pintou Katia com o palhacinho listrado de vermelho e branco também. E pintou… e pintou… e pintou…
Muitas vezes, Katia ouvia os dois cochicharem: “Quando é que vamos posar de novo? ” Eles adoravam posar com a Katia para a Edith.
Passaram-se anos. Na verdade, sessenta anos. Edith continua pintando no céu. Já ouvi dizer que pinta estrelas e arco-íris.
Quanto ao ursinho Teddy e ao palhacinho listrado de vermelho e branco (nunca teve nome), eles continuam por aqui mesmo. Junto com a Katia. Que não é mais menina. Que teve filhos. E netos.
Tem dia que os três ficam lembrando de como era bom ficar posando para Edith. De como era bom ter sido criança! Afinal, mesmo sexagenários, mesmo com a pele murchando, o pelo faltando ou o pano desbotando, os três continuam amigos e eternos nas pinturas…
Autor: Catherine Beltrão
Comments(7)
Verônica Barros de Andrade says:
4 de novembro de 2016 at 10:52Querida amiga, que linda historia! Parece que a magia dos pinceis de Edith atravessa gerações e se integra ao universo infantil dessa Kátia tão feliz com seu ursinho e seu palhacinho. A delicadeza e o sonho deixam o nosso coração tão quentinho… adorei esse resgate da “fase infantil” e torço que a Edith ainda nos revele através de você ainda mais doçura e beleza. Um beijo grande e muito obrigada!
Catherine Beltrão says:
7 de novembro de 2016 at 03:18Lindas palavras, Verônica, que me mostram que devo continuar neste caminho de valorização da obra desta magnífica artista que foi minha avó Edith Blin. Estou dando os primeiros passos neste novo projeto de relacionar as obras que ela fez nos anos 50, de quando eu era criança. A ideia é contar histórias para crianças. Acho que está dando certo, pelas reações de algumas pessoas que já leram este primeiro texto. Valeu demais, amiga!
Taissa says:
8 de novembro de 2016 at 00:36Que lindo!
Realmente dá um lindo livro, personagens que tem muito para contar de forma lúdica o que a pintura pode ser na vida das crianças e como ela é eterna! 🙂
Catherine Beltrão says:
28 de novembro de 2016 at 19:06Pois é, Taissa, a ideia é essa mesmo. A relação de uma criança com obras de arte deixa marcas em sua alma que irão permanecer e moldar a sua vida. Um abraço enorme!
MIGUEL PENNA SATTAMINI DE ARRUDA says:
27 de novembro de 2016 at 18:56Confirma a ótima ideia de fazer livro infantil. Adorei a foto. Essas recordações são as coisas mais importantes que carregamos pela vida. Eu tive um cavalo lindo, trazido dos Estados Unidos quando fui operar o coração ainda criança. Era o ano de 1955, eu tinha 11 anos. Era meu companheiro inseparável e amado. Mas, infelizmente, como estamos num país onde a violência prepondera sobre tudo, os assaltantes entraram na minha casa e levaram tudo que eu tinha, inclusive meu cavalinho. Pena que não fiquei com uma foto do meu cavalinho.
Catherine Beltrão says:
28 de novembro de 2016 at 19:17Miguel, guardamos nossa história em nossas lembranças. E elas, ladrão algum irá roubar. Você pode falar delas, desenhá-las, pintá-las. É o que estou tentando fazer, com alguns destes últimos posts escritos, baseados em lembranças de minha infância. Minha relação com a Arte começou lá naquela época. E por que não expor estas lembranças, em forma de pequenas histórias para as crianças?
MIGUEL PENNA SATTAMINI DE ARRUDA says:
27 de novembro de 2016 at 18:59Esqueci de dizer que tenho uma admiração especial por quem pinta com pastel. A técnica de pintura mais difícil que existe no meu ponto de vista. Lindos pastéis.