Os sessenta anos de um urso e de um palhaço

Era uma vez um ursinho preto. De pelúcia. E também era uma vez um palhaço. De pano, listrado de vermelho e branco.  Eles se encontraram na casa de uma menina. Ela tinha seis anos. Seu nome era Katia.

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“Katia e seus amigos”, de Edith Blin. 1956, pastel sobre cartolina, 48 X 30cm.

 Katia adorava brincar com eles. O ursinho preto e o palhacinho vermelho e branco. E eles adoravam brincar com ela.

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“Katia com ursinho preto”, de Edith Blin.1954, pastel sobre cartolina, 46 X 32cm

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“Retrato de Katia com palhacinho e urso I”, de Edith Blin. 1956, pastel sobre cartolina, 50 X 35cm.

A menina morava com a avó. E a avó de Katia era pintora! Ela gostava muito de pintar a Katia. Já tinha feito vários retratos dela. Então, um dia Edith – era o nome da avó –  resolveu pintar a Katia com os seus amigos, o ursinho e o palhaço. Primeiro, ela pintou a neta só com o ursinho que, a essa altura, já tinha nome e se chamava Teddy.

Katia já estava acostumada a posar… ela sabia que precisava ficar quietinha. Mas Edith não precisou falar nada  para o Teddy. Ele também não se mexeu nem um pouco enquanto posava.

Depois, Edith pintou Katia com o palhacinho listrado de vermelho e branco também. E pintou… e pintou… e pintou…

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“Retrato de Katia com palhacinho e urso II”, de Edith Blin. 1956, pastel sobre cartolina, 63 X 47cm.

Muitas vezes, Katia ouvia os dois cochicharem: “Quando é que vamos posar de novo? ” Eles adoravam posar com a Katia para a Edith.

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“Retrato de Katia com palhacinho e urso III”, de Edith Blin. 1956, óleo sobre tela, 61 X 50cm.

Passaram-se anos. Na verdade, sessenta anos. Edith continua pintando no céu. Já ouvi dizer que pinta estrelas e arco-íris.

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O ursinho Teddy e o palhacinho vermelho e branco, sessenta anos depois…

Quanto ao ursinho Teddy e ao palhacinho listrado de vermelho e branco (nunca teve nome), eles continuam por aqui mesmo. Junto com a Katia. Que não é mais menina. Que teve filhos.  E netos.

Tem dia que os três ficam lembrando de como era bom ficar posando para Edith. De como era bom ter sido criança! Afinal, mesmo sexagenários, mesmo com a pele murchando, o pelo faltando ou o pano desbotando, os três continuam amigos e eternos nas pinturas…

 Autor: Catherine Beltrão

Comments(7)

  1. Responder
    Verônica Barros de Andrade says:

    Querida amiga, que linda historia! Parece que a magia dos pinceis de Edith atravessa gerações e se integra ao universo infantil dessa Kátia tão feliz com seu ursinho e seu palhacinho. A delicadeza e o sonho deixam o nosso coração tão quentinho… adorei esse resgate da “fase infantil” e torço que a Edith ainda nos revele através de você ainda mais doçura e beleza. Um beijo grande e muito obrigada!

    • Responder
      Catherine Beltrão says:

      Lindas palavras, Verônica, que me mostram que devo continuar neste caminho de valorização da obra desta magnífica artista que foi minha avó Edith Blin. Estou dando os primeiros passos neste novo projeto de relacionar as obras que ela fez nos anos 50, de quando eu era criança. A ideia é contar histórias para crianças. Acho que está dando certo, pelas reações de algumas pessoas que já leram este primeiro texto. Valeu demais, amiga!

  2. Responder
    Taissa says:

    Que lindo!
    Realmente dá um lindo livro, personagens que tem muito para contar de forma lúdica o que a pintura pode ser na vida das crianças e como ela é eterna! 🙂

    • Responder
      Catherine Beltrão says:

      Pois é, Taissa, a ideia é essa mesmo. A relação de uma criança com obras de arte deixa marcas em sua alma que irão permanecer e moldar a sua vida. Um abraço enorme!

  3. Responder
    MIGUEL PENNA SATTAMINI DE ARRUDA says:

    Confirma a ótima ideia de fazer livro infantil. Adorei a foto. Essas recordações são as coisas mais importantes que carregamos pela vida. Eu tive um cavalo lindo, trazido dos Estados Unidos quando fui operar o coração ainda criança. Era o ano de 1955, eu tinha 11 anos. Era meu companheiro inseparável e amado. Mas, infelizmente, como estamos num país onde a violência prepondera sobre tudo, os assaltantes entraram na minha casa e levaram tudo que eu tinha, inclusive meu cavalinho. Pena que não fiquei com uma foto do meu cavalinho.

    • Responder
      Catherine Beltrão says:

      Miguel, guardamos nossa história em nossas lembranças. E elas, ladrão algum irá roubar. Você pode falar delas, desenhá-las, pintá-las. É o que estou tentando fazer, com alguns destes últimos posts escritos, baseados em lembranças de minha infância. Minha relação com a Arte começou lá naquela época. E por que não expor estas lembranças, em forma de pequenas histórias para as crianças?

  4. Responder
    MIGUEL PENNA SATTAMINI DE ARRUDA says:

    Esqueci de dizer que tenho uma admiração especial por quem pinta com pastel. A técnica de pintura mais difícil que existe no meu ponto de vista. Lindos pastéis.

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